Resumo de uma entrevista dada

Boomerang… cria o seu primeiro fruto numa altura em que Portugal se contorce com a grande seca dos últimos anos: a seca de valores, de socialismo, cooperativismo, relações duradouras, da partilha… da fraternidade!... numa crescente globalização de desinteligência e consumismo feroz!

…”Mesmo na noite mais escura “ (…) “há sempre alguém que resiste”, “há sempre alguém que diz não!” – Manuel Alegre

Numa antítese completa ao panorama nacional, Boomerang intervém com o seu lirismo sarcástico, como em tempos se fez (no tempo da Ditadura visível). Um descontentamento que leva ao canto, um canto que leva ao grito, um grito que leva ao choro, um choro que leva ao sussurrar… um novo cantar de intervenção?

Em relação ao factor “banda” é interessante que “pare, escute e olhe”: falando de artistas dentro de um determinado padrão de letra e música, parece-me que vivemos em águas verdes… paradas! Reparamos que “artistas de nome próprio” são poucos os que nascem e bandas muito menos… O egoísmo social espelha-se na arte é quase impossível trabalhar em equipa… e os Boomerang são uma grande equipa: não só como banda mas com todos aqueles que trabalham arte pela arte (produtores, designers, etc).

Há uma grande interacção da banda com as outras artes (com tendência para aumentar) partindo da ideia Wagneriana de drama musical. A música deixa de ter aquele papel solitário e passa a interagir com as artes plásticas (na criação de cenários), com a fotografia, pintura e até vídeo, ajudando a mensagem a passar num campo sensorial muito mais alargado!

Ao ouvir os Boomerang reparamos num som muito transparente, vindo de pesquisas intensivas, quase doentias… duma demanda constante ao bom som!

No fundo, depois de tudo mexido, obtemos uma música deliciosamente mágica e calma… onde as palavras têm tempo para irem ao fundo e voltarem, onde a guitarra que ralha também chora… uma música que nos leva bem além do nosso sofá… a lugares bem profundos do nosso inconsciente!...

João A. Francisco